A aventura humana
Contemplámos, talvez pela última vez
a possibilidade de um outro caminho
alongámos o olhar saudoso de um futuro
que já não veríamos
Haveria outro dia, mas já não haveria esperança
tudo estava pré-determinado
a mediocridade vencera
porque vence sempre
está escrito
a invasão bárbara e bélica
sobrepõe-se à tranquilidade
Quantas civilizações viram assim o seu ocaso?
Quantos sábios foram trucidados pelas máquinas infernais?
Em nome da superioridade tecnológica
da desumanização progressiva
Quantos foram esmagados e esquecidos?
Contemplámos, talvez pela última vez
a possibilidade da liberdade sem fronteiras nem limites
a doce sensação de leveza, a doce sensação de estar vivo
o olhar liberto de filtros e de janelas
o gesto amplo de quem se desloca sem qualquer esforço
o sorriso humano, luminoso,
o abraço fraternal
Dedicado ao blogue Saudades do Futuro, esta versão apocalíptica do futuro, e aqui estou a ver o país, mas também a Europa que nos preparam, este território de velhas culturas e velhos sábios, que foram esquecidos pelos que não aprenderam com outras culturas antigas e sábias. Não estou a pensar na civilização grega nem sequer na romana, essas são as bases agora adaptadas ao socialismo bárbaro e bélico. Claro que ainda poucos vêem esse horizonte, mas o Saudades do Futuro já o vislumbrou, embora se tenha decidido pelo caminho da reflexão para a acção, na senda de uma possível restauração. Inspirada por essa possibilidade, vou tentar superar a visão apocalíptica, pois. Além disso, a vinda do Papa Bento XVI veio-nos lembrar que ainda é possível recuperar esse caminho perdido.
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A cultura democrática
Foi ao lembrar uma das minhas lines preferidas de filmes, Na minha vida não há lugar para a mentira (Michelle Pfeiffer), n' A Casa da Rússia, que me surgiu esta ideia: o papel da verdade na cultura democrática. No filme, diversas personagens vêem-se envolvidas na lógica das corporações, da política, da espionagem. É-lhes subtraída a possibilidade de respirar à vontade e de simplesmente viver as suas vidas de forma tranquila. É-lhes por pouco subtraído o direito de viver, como aconteceu ao cientista amigo da nossa heroína. Sean Connery dirá que foi a sua escolha mais fácil, optar por salvar a vida da amada e da família, agiu segundo a sua bússula interior e saltou fora da lógica corporativa que não lhes dizia respeito.
Estamos numa fase em que ainda é possível saltar fora da lógica corporativa e escolher a cultura democrática. Mas tal não se verificará por muito tempo, porque o sistema tem formas de se defender e de se perpetuar. As vidas simples das pessoas comuns são-lhe indiferentes. Por isso não lhes dizem a verdade. Mas quem opta por lhes dizer a verdade, ganha confiança e credibilidade, assim como ganham as pessoas comuns. A cultura democrática é a civilização do amor de que fala o Papa Bento XVI. A cultura corporativa é uma nova barbárie, sem alma nem coração, sem vida lá dentro, só destruição, é a lei do mais forte contra o mais fraco.
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A alma acesa
Quando a alma se acende
tudo se ilumina
caminhos perdidos
reaparecem no horizonte
mãos tateantes encontram-se
abraços e sorrisos
estamos aqui
Veio de longe
ao encontro do seu povo
e todos o reconheceram
símbolo de Pedro
construção sagrada
Veio ao nosso encontro
lembrar-nos quem somos
e os laços que nos unem
indestrutíveis porque no plano da alma
a alma acesa do seu povo
Leva consigo a certeza viva
da confirmação da fé
do amor fraterno
do destino universal
de um povo carinhoso
Ficamos mais fortes
na alegria do encontro
o olhar mais límpido e seguro
as mãos menos tateantes
os caminhos a aclarar-se
Obrigada, Santo Padre!
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Grandes alegrias: a vinda do Papa Bento XVI a Portugal
Há alegrias que nos animam num determinado momento e há alegrias que nos iluminam num sorriso. E há alegrias que nos lembram os laços eternos de uma humanidade fraterna. A vinda do Papa Bento XVI a Portugal é dessa dimensão. E por isso nos comove.
Este acolhimento emocionado português é o mesmo de sempre, de um sentimento que está vivo e que se prolonga pelas sucessivas gerações. É essa a dimensão da vitalidade da cultura cristã.
O seu primeiro discurso em solo português atravessa o essencial da nossa História, da nossa sensibilidade cultural e filosófica, dos enormes desafios que já tivemos de enfrentar e dos que hoje enfrentamos. Mas é essencialmente na dimensão da verdade e autenticidade dos sentimentos mais profundos que o povo se revê. É essa a importância da vinda do Papa a Portugal.
Que dizer desse encontro emocionado do cordão humano e o Papa que sorri e acena? O encontro que ilumina a alma? O encontro que reconhece o essencial? Impossível não nos comovermos, não partilharmos essa imensa alegria...
O momento alto em Lisboa: o acolhimento caloroso, comovido e festivo no Terreiro do Paço. A missa no altar belíssimo, perto do rio e do céu. Em branco e azul-mar, com nuvens brancas ao fundo. Ah, as nuvens de Maio e a luz de Lisboa... onde a voz do Papa sobressaiu inspirada. A lembrar-nos quem somos e a importância do nosso testemunho fraterno universal.
O Papa a sentir o calor e a alegria, autênticos e genuínos. "A alegria verdadeira e duradoura", diz na Homilia, só em Cristo. O Terreiro do Paço foi o lugar dessa alegria nas saudações ao Papa, nas bandeiras coloridas e simbólicas, e nos lenços brancos, o sinal de adeus...
Este foi um encontro feliz: nunca como agora precisámos da sua voz e presença e o Papa também precisava desse calor de um povo sempre fiel, ao longo de séculos, a uma cultura cristã. Nestes encontros felizes a alma ilumina-se e incendeia-se.
Um intervalo aqui que não quero perder a Serenata dos jovens...